Uma passagem por Ayodhya

"A consciência algumas vezes fala com a voz da sociedade,

outras vezes com a do coração.

No nosso íntimo, sempre sabemos a diferença. "
Geanne Tardiveau

Revivendo um passado que nao mais existe... Fascinada pelas mensagens deslumbrantes dos epicos, contos, lendas e mitos indianos. Historias que ficaram no passado e nos alertam para recriar um presente feliz, de paz e harmonia.

Como estudante da mitologia hindu, visito algumas cidade que fizeram parte dessas historias. Um grande epico eh o Ramayana que significa "feitos de Rama", considerado um avatar (encarnacao divina) de Vishnu, o principio que sustem e mantem o universo.

Rama foi um principe que viveu na epoca de Tetra Yuga, a era de prata, junto com sua consorte Sita. Esse casal Sita-Ram eh considerado um modelo das qualidade divinas que podem ser desenvolvidas e alcancadas na uniao mulher-homem. Existem filmes, livros sobre a lenda e da para pesquisar na net para conhecer mais.

Existem 7 principais cidades sagradas para o hinduismo e Ayodhya eh uma dessas. Eh onde Rama nasceu e onde reinou depois de passar longos anos em exilio com sua esposa e seu irmao. Dessas 7 cidade, um senhor me disse que 4 sao as de mais importancia: Varanasi como a cidade de Shiva-Parvati, representa o poder do conhecimento (yoga); Vrindavana como a cidade de Krishna-Radha representa a luz da devocao amorosa (prema-bhakti); Ayodhya como a cidade de Rama-Sita representa a sabedoria do amor (jnana). Sendo que Rishkesh, aos pes dos Himalayas eh a juncao dos 3.

Confesso que foi um baque chegar em Ayodhya e me deparar com uma cidade historica muito antiga, porem completamente velha e caindo aos pedacos. Me deu a impressao de abandono e descaso a todo um legado tao belo e magnifico.

Enfim... tudo eh parte da vida, do viver e do aprender! Afinal tudo tem um porque.

Foi como se o ideal de amor ficasse tambem no passado, um ideal que carregava comigo e ate a pouco tempo acreditava se despedacou e se tornou velho e sem valor. Creio que foi isso que eu vim ver fora para renovar dentro de mim. Em Ayodhya mais ensinamentos em pequenos detalhes.

O romance de Sita-Ram que vocalizo num lindo e melodioso mantra, o qual adoro e me traz incriveis vibracoes de divino e puro amor, se tornou um romance lendario que ilude meu coracao romantico. Parei na beira do rio, vendo os ghats (locais de banho), macacos (hanuman) estao aos milhares. Admirando a paisagem e a realidade que se transforma na percepacao de um amor maior que surge da semente para o botao, desabrochando vagarosamente...

Sorri para toda as impressoes, enquanto devotos passavam para um lado e para outro com suas oferendas e canticos. O que eh a fe? O que eh a religiao? O espirito do religar esta encoberto pela sujeira, o desencanto do sofrimento as vezes mascara o amor e o descaso de todos aqueles que ja aprenderam a conviver com esse caos em harmonia, uma aparente ignorancia para nossos olhos cultos frente aos inumeros festivais que essa vasta crenca religiosa possui.

Menor que o Brasil e imensamente mais populoso, a India eh um apis em constante construcao de uma milenar desconstrucao. Onde os polos opostos e complementares aqui sao vistos com tanta clareza e nitidez que as vezes assusta, amedronta e tambem fascina.

E eh essa a grande riqueza que me faz botar mais o pe no chao ao mesmo tempo que subo numa ascensao do reencontro de mim mesma com "meus" eus e todos os "eus" ao redor de mim.

Ayodhya apresenta-se com uma cidade que sofreu deveras pelas incidencias das invasoes muculmanas, que destruiram muita coisa, deixando por onde passam uma cidade em cacos. Como se pode ver abaixo:

Me despedi sorridente dessa contraditoria cidade, agradecendo pelo que vim aprender aqui e me liberando de mais sonhos e ilusoes que eu tambem carregava no passado.

Fragmentos que ficam pelo caminho por onde ando, nessa mistura da India comigo mesma. Me abastecendo de tudo que necessito, eh uma terra muito abencoada onde vivemos a realidade dura e suave, facil e dificil, numa graca em que tudo que se pede se realiza, ou melhor, tudo que se pensa se concretiza.

Continuo seguindo, no processo de liberar, deixar ir e esvaziar. Na quebra de todos os moldes, conecitos, padroes e condicionamentos pre-estabelecidos. Um caminho que se revela no meio de todo o dual, mostrando a luz atras dos veus da ilusao.

Como diz Paramahamsa Yogananda:

"A vida eh doce e a morte eh um sonho,

quando flui por mim Tua cancao meu Deus..."

Despertai, despertai, despertai! Iluminai, iluminai, iluminai!

E saboreai a doce vida real...