Mesmo antes de pisar na Índia, já posso sentir as transformações interiores. As emoções estão à flor da pele!
Ainda em Brasília, despeço-me da nova família de amigos, a correria de deixar tudo pra trás.... O desapego me acompanha mais intensamente desde quando meu irmão faleceu, depois com o término de um namoro, até muitos meses depois raspar a cabeça e agora deixo tanto para trás, ainda mais desapego, inclusive de um companheiro que por ora fica.
Escolhas, passos e renúncias. Não-ego-vaidade-apego, testes decorrentes de cada atitudes que se opta!
Enfim, nesta etapa vi a necessidade de agilizar tudo, vender, dar, guardar e, simultaneamente, um entra e sai de queridos seres lá em casa. Ufa!!! É tanto a fazer e tão pouco tempo para dar a devida atenção a tudo e a todos... e a mim mesma!
Mas agora já é! Está tudo certo e se encaminhando... Recebo uma nova família querida, com histórias em comum e me despeço da mãe que tem a dor da alma pela morte de uma filha, assim como a minha mãe. Emano o melhor para superar tamanho sofrimento que se instala, emano a força da aceitação, mas quem sou? Insignificante me vejo, a ponto de querer compreender algo tão sem palavras. Tão pequena e incapaz de auxiliar a todos... Me compadeço do sofrimento, mas cada qual tem seu processo, quem sou para inteferir? Almejo tanto a harmonia e equanimidade em mim e em todos os seres... Ai, ai, mas quanto tenho a aprender ainda... Sou uma pequena criança de Deus!
Nos olhos azuis que me contagiam, onde me dissolvo, onde posso por horas meditar plenamente bem e realizada... Nosso último encontro foi na árvore, aquela que trás e dá a vida, nas flores e nos frutos e até nos pássaros que encantam. Até o beija-flor veio se despedir...
E nos "Olhos de céu" vi lágrimas contidas... E nesses mesmos olhos é onde agora repouso no silêncio do meu sincero amor que carrego comigo para me dar a guiança no caminhar.
No aeroporto o toque do didjerido me fez entrar em contato com a Terra, com o acalento, com a segurança e com a presença única além do tempo e espaço. Me lembro de tudo o que a vida me trouxe, assim como das amigas que formam novas famílias e vem a voz da amiga Cristal tão querida a dizer para ver nos olhos das crianças que lá verei na Índia, as crianças daqui...
Não precisei ir tão longe, uma doce pequena de olhos puxados, na singeleza de seu olhar, entrou fundo em mim, enquanto eu tocava um instrumento novo para ela. Ó doçura que encanta e sem palavras diz tudo no olhar tímido de quem está a descobrir o mundo!
Aperto o cinto, a primeira etapa é Brasília (BSB) até Sampa (SP)... Neste trecho, olho a janela e por ver tudo do alto, vejo novos prismas, meu olhar é diferente. Vejo as tesourinhas da cidade nas quais tanto me confundi e me perdi, do alto parecem trevos de 4 folhas. Cidade de sorte, cidade abençoada!
Percebo o entrar nas nuvens, são como flocos de algodão que estão suspensos no céu, me lembro daquele doce dos parquinhos que melava toda a mão... Uma sensação suave e gostosa, ao pensar no meu corpo acariciando o ar do qual elas fazem parte. E me torno avião-pássaro sentindo minhas asas saindo das escapúlas e alço vôo em direção ao infinito, às ilimitadas possibilidades.
Abro um livro que o amigo Diuk me emprestou: "REVERÊNCIA PELA VIDA", muito sugestivo e tudo a ver com este momento. Como sou grata!!!
E reverenciando a magnitude da criação, a paisagem de Brasília fica para trás... Até logo, até sempre e até já!
Minha criança interior brinca comigo e, cansada, dorme se aninhando na poltrona em posição fetal, eu sei que é só mais um renascimento...
Rapidamente a distância sem fronteiras e já avisto os vales da grande SP, rios largos e muito verde, chega mais próximo da capital e tudo isso dá lugar ao concreto da selva de pedra. Aquela sensação boa de voar e o avião chega ao seu destino.
Desço as escadas, pisar em SP e, no meio da pista do aeroporto, poder olhar o céu imenso, o azul de Brasília que deu lugar a um tom mais cinza por aqui.
Respiro fundo, sigo para o ônibus que me conduz a onde estão as malas nas esteiras, caminho mais um pouco e logo avisto meu querido Pai que foi me buscar... Que delícia é o reencontro!
"O pensamento é uma forma de reencontro!"
Que bom nos encontramos no coração, onde reside a amizade eterna e no doce carinho, o fraterno amor...
Haja luz!
beijos carinhosos
3õ Kár
